sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A MENINA COM VONTADE DE FAZER XIXI!

Ela entrou no comboio juntamente com uma colega. Vinham as duas carregadas de resmas de fotocópias. Quando se sentaram quase deixaram cair as ditas para cima de uma outra menina que viajava no banco em frente ao delas e que ia a falar ao telemóvel... Lá se equilibraram e sentaram-se.

Uma delas era magra, loura natural, com uma tez de pele meio rosada, o que até condizia com a camisola que vestia; carregava uma pasta que a julgar pelo esforço estaria pesadíssima e nas mãos trazia um livro bem grosso e muitas, mas muitas fotocópias. A outra menina tinha o cabelo pintado com madeixas suaves, a pele bronzeada e falava mais pausadamente. No colo pousou umas milhares de folhas A4, que se veio a saber depois serem de livros a distribuir por outros colegas que tinham faltado às aulas.


Elas estudavam Direito na Autónoma e «só por milagre» tinham apanhado aquele comboio. A menina loira queixou-se algumas vezes que ia aflitíssima para ir à casa-de-banho mas que não tivera tempo de o fazer: saiu da faculdade a correr, carregadíssima, e na estação também não havia casa-de-banho aberta. Por outro lado, mesmo que houvesse e a tivesse utilizado, teria perdido aquele comboio e àquela hora da noite teria que esperar quase uma hora pelo seguinte. Além de que perderia a companhia da colega.

E, bom, para não se lembrar da necessidade fisiológica que a atormentava lá foi falando sobre os códigos civis anotados e por anotar, e que as fotocópias que levava já eram repetidas de outras que tinha carregado noutro dia, e que isto de levar as coisas em triplicado para colegas que foram de férias mais cedo era incómodo. E coisas assim!

A colega menos faladora sairia numa das paragens seguintes. A menina loira e magra com face e camisola rosada e com calças de ganga pegou no telemóvel, marcou um número e ligou a alguém. Suplicou a esse alguém que a fosse buscar à estação porque estava carregada e aflitíssima, adivinhando uma infecção urinária a caminho... Do outro lado do éter parecia que lhe punham dificuldades, que não podiam, que o jogo ainda não tinha acabado... Ela insistiu... De nada valeu! «Que pai tão malvado», pensou quem estava próximo! Mas depois apercebeu-se que não seria o pai mas sim o namorado!

O telefonema prosseguiu e as suplicas também. Que estava mesmo aflita, que não aguentava mais, que estava cheia de dores... De nada valeu: para o namorado o jogo que estaria a ser transmitido na televisão era fundamentalmente mais importante! Foi isso que depreendeu quem estava próximo...

Hoje, esse alguém que estava próximo é o novo namorado da menina loira e bonitinha, um pouco com cara de provinciana mas com uma voz meiga. Ele estava no sítio certo à hora certa e afinal só teve que carregar com um Código Civil anotado e com umas resmas de fotocópias...

4 comentários:

Bichodeconta disse...

Cheguei, é um privilégio ser a primeira a comentar este teu novo desafio.. Basta estar atento para que em cada olhar, gesto, sorriso, ou na tez mais fechada descobrir uma história..Infelizmente nem todas com final feliz..Virei aqui sempre que possível, partilhar deste teu olhar sobre o que te rodeia..Um abraço e um bom fim de semana..

Bichodeconta disse...

Esta história, pode acabar aqui, mas também pode ter um seguimento..Para tanto basta que a tua imaginação não pare, e de muita imaginação já nos deste sobejas provas..Seja qual for o desfecho, parabenizo-te.. Prova que estar no sitio certo á hora certa , pode fazer a diferença de toda a nossa vida... NÃO HÁ COINCIDENCIAS.Um abraço...

BlueVelvet disse...

Mas que segredo tão bem guardado!!
Parabéns!
Fico tão contente por si.
E gosto deste aspecto, azul claro, azul céu limpo.
Que maravilha, não fui a 1ª, mas quase.
Que história linda e tão bem escrita. Cheia de ritmo, vim pelas linhas abaixo para saber o fim.
Agora já sei qual vai ser o fim:um dia, estas histórias todas vão parar um livro.
Espero eu.
Grande, grande beijinho

LÉIA DIAS disse...

OI!! Sou Léia Dias ( ARTISTA PLÁSTICA de DUQUE DE Caxias RJ). Sua vó não deixou vc, mas fez uma coisa muito importante que é fazer vc multiplicar as suas estórias,vc ante e depois em que ouve sua partida, pense nisso. como eu acabei de fazer,ela também faz parte de mim agora. Um abraço eate breve.