Ela entrava no autocarro duas ou três paragens antes dele. Não se conheciam, nunca se olharam nos olhos, o acaso apenas fizera com que fossem companheiros de viagem. Viagem essa que não demorava mais de meia-hora. Ela tinha arranjado um estágio na Câmara Municipal e ele saía duas paragens antes da dela, pelo que ela não sabia qual a sua profissão.
Como viajava ao contrário da hora de ponta o autocarro levava pouca gente. Isso não impediu de uma vez ele se sentar ao lado dela, apesar de haver muitos bancos e muitos lugares vagos nas proximidades - o português não gosta muito de «incomodar» e nos transportes públicos as pessoas que vão entrando vão ocupando os bancos vagos até ser obrigatório sentar ao lado de alguém.
Ele sentou-se ao lado dela, mas não a olhou. Procurou uma das mãos dela e segurou-a... apertou-a! Ela estranhou mas também não fez qualquer gesto para retirar a mão. Assim seguiram. Mais à frente entrou um grupo de estudantes em grande algazarra. Continuaram de mãos dadas! Alguns minutos e algumas paragens depois ele chegou ao destino: retirou a mão, nem olhou para ela, levantou-se, caminhou pelo corredor e saiu...
E todos os dias se repetiu a cena: ele entrava, sentava-se ao lado dela, nem uma palavra, dava-lhe a mão e assim permaneciam todo o tempo da viagem até que ele se levantava sem qualquer despedida.
No princípio ela ficou surpreendida mas com o passar dos dias começou a achar piada à situação e esperava a cada momento uma palavra da parte dele. Embora ele aparentasse ser um bom bocado mais velho que ela não lhe desgostava a ideia de o poder conhecer melhor... além do tacto das mãos!
Assim andaram semanas. O estágio dela, entretanto, estava a chegar ao fim e na segunda-feira da última semana ela resolveu que falaria ela. Nesse dia levou a roupa com que se sentia melhor, tinha ido ao cabeleireiro e achava-se muito bonita - aliás, ela era muito bonita!
Mas na paragem habitual - e pela primeira - ele não entrou. Ela estranhou mas ainda teve esperanças que ele entrasse na paragem seguinte. Mas não, por coincidência nessa paragem entrou outro indivíduo com um jornal na mão que - por azar - se sentaria ao lado dela. Olhou-a de soslaio e ficou a ler o jornal enquanto o autocarro devorava quilómetros e paragens.
Esse indivíduo tocou à campainha na mesma paragem em que o outro estranho indivíduo saia habitualmente. Quando se levantou, deixou cair no banco uma das folhas do jornal. Ela ainda lhe fez sinal mas o indivíduo já ia porta fora. O autocarro arrancou. Ela ficou com a folha de jornal na mão e apercebeu-se que era a página da necrologia. Sem saber bem porquê os seus olhos quedaram-se numa fotografia de alguém que ela conhecia... a data do jornal era de alguns meses antes!
Como viajava ao contrário da hora de ponta o autocarro levava pouca gente. Isso não impediu de uma vez ele se sentar ao lado dela, apesar de haver muitos bancos e muitos lugares vagos nas proximidades - o português não gosta muito de «incomodar» e nos transportes públicos as pessoas que vão entrando vão ocupando os bancos vagos até ser obrigatório sentar ao lado de alguém.
Ele sentou-se ao lado dela, mas não a olhou. Procurou uma das mãos dela e segurou-a... apertou-a! Ela estranhou mas também não fez qualquer gesto para retirar a mão. Assim seguiram. Mais à frente entrou um grupo de estudantes em grande algazarra. Continuaram de mãos dadas! Alguns minutos e algumas paragens depois ele chegou ao destino: retirou a mão, nem olhou para ela, levantou-se, caminhou pelo corredor e saiu...
E todos os dias se repetiu a cena: ele entrava, sentava-se ao lado dela, nem uma palavra, dava-lhe a mão e assim permaneciam todo o tempo da viagem até que ele se levantava sem qualquer despedida.
No princípio ela ficou surpreendida mas com o passar dos dias começou a achar piada à situação e esperava a cada momento uma palavra da parte dele. Embora ele aparentasse ser um bom bocado mais velho que ela não lhe desgostava a ideia de o poder conhecer melhor... além do tacto das mãos!
Assim andaram semanas. O estágio dela, entretanto, estava a chegar ao fim e na segunda-feira da última semana ela resolveu que falaria ela. Nesse dia levou a roupa com que se sentia melhor, tinha ido ao cabeleireiro e achava-se muito bonita - aliás, ela era muito bonita!
Mas na paragem habitual - e pela primeira - ele não entrou. Ela estranhou mas ainda teve esperanças que ele entrasse na paragem seguinte. Mas não, por coincidência nessa paragem entrou outro indivíduo com um jornal na mão que - por azar - se sentaria ao lado dela. Olhou-a de soslaio e ficou a ler o jornal enquanto o autocarro devorava quilómetros e paragens.
Esse indivíduo tocou à campainha na mesma paragem em que o outro estranho indivíduo saia habitualmente. Quando se levantou, deixou cair no banco uma das folhas do jornal. Ela ainda lhe fez sinal mas o indivíduo já ia porta fora. O autocarro arrancou. Ela ficou com a folha de jornal na mão e apercebeu-se que era a página da necrologia. Sem saber bem porquê os seus olhos quedaram-se numa fotografia de alguém que ela conhecia... a data do jornal era de alguns meses antes!
11 comentários:
Que história!
Abraço*
Foda-se, andas gótico! :)
A ideia é excelente... isso precisa de umas tintas negras pelo meio.
Bem...mas que historia...sim snhr, parabens! Beijos e passa no meu blog sp k kiseres =)
gostei! já te adicionei.sofialisboa
Partidas que a vida nos prega.. Para ele , aquela mão na sua ficaria tatuada... Linda história, Um final que eu não gostaria de viver..um abraço..
Olá Alexandre
Gostei de todas as tuas histórias. É um projecto muito interessante. A continuar, com energia.
Beijinhos
a vida tem destas coisas...muito bem conseguida esta história, tal como todas as outras...
Vinha em busca de mais uma história, só que hoje é dia de folia(pra alguns)claro! Mas volto mais tarde, já agora gostaria de acompanhar este projecto a que estás a dar vida e que na minha modesta prespectiva tem tudo para ser bem sucedido..um abraço..
história com muito por desvendar, ou não...
Gosto deste novo espaço. Ando é com muito pouco tempo para a blogosfera.
Bjocas
Meses antes???
Li com atenção a história mas...
também pergunto o mesmo que a Blue Velvet:
...meses antes...???
explica se puderes!
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